Há um consenso no mercado de combustíveis de que, quando o preço do etanol hidratado está abaixo de 70% do valor da gasolina, os motoristas tendem a preferir o biocombustível — afinal, o etanol tem um rendimento 30% menor do que a gasolina. Falta, porém, combinar com o motorista.
Uma pesquisa feita pela Empresa de Pesquisa Energética (EPE) mostra que apenas quatro em cada dez proprietários de veículos flex têm conhecimento sobre essa relação de preços. A EPE fez entrevistas em 15 grandes centros urbanos em julho de 2022. Os resultados saíram no fim do ano passado.
Mas não apenas são poucos os que sabem da “regra dos 70%” como também é uma minoria que afirma sempre fazer as contas. Os que as fazem representam apenas 17% do universo de motoristas, os que realizam os cálculos “às vezes” representam 35,2% do total e 47,2% nunca fazem as contas.
Em alguns veículos, o rendimento do etanol é pouco superior a 70% da gasolina, e em outros, menor, o que faz com que, na média, valha a regra dos 70%, explica Rogério Gonçalves, diretor de combustíveis da Associação Brasileira Engenharia Automotiva (AEA).
Em janeiro, a União das Indústrias de Cana-de-Açúcar (Única) lançou uma campanha para promover o consumo de etanol, em um momento em que a demanda ainda não tinha reagido aos baixos preços (ver abaixo). As vendas de hidratado até subiram 5% em 2023, mas ainda estão abaixo dos níveis pré-pandemia, segundo a Agência Nacional do Petróleo, Gás Natural e Biocombustíveis (ANP).
Nas peças publicitárias da campanha da Unica, o humorista Rafael Portugal cita entre as vantagens do etanol seu caráter sustentável e de geração de empregos. A sustentabilidade, porém, ainda não está na cabeça dos motoristas.
Por Camila Souza Ramos | GR