A bacia do rio Paraguai, responsável por abastecer o Pantanal, registrou na quinta-feira (16) a mínima histórica para o mês de maio. Conforme o Boletim de Monitoramento Hidrológico da Bacia do Rio Paraguai, feito pelo Serviço Geológico do Brasil (SGB), o nível do rio em Ladário chegou a 2,4 metros abaixo da média esperada.
Segundo explica o pesquisador em Geociências da SGB, Marcus Suassuna, o nível baixo do rio é resultado de um período seco prolongado, em 2023, e também um período muito baixo de chuva.
“O QUE TÁ ACONTECENDO HOJE É RESULTADO DE UM PROCESSO QUE COMEÇOU NO FINAL DE 2023. ANO PASSADO A GENTE ESTAVA COM UM EL NINO FORTE E ELE FEZ COM QUE O FINAL DO PERÍODO SECO SE PROLONGASSE. NO COMEÇO DESSE ANO, OS NÍVEIS ESTAVAM MUITO BAIXOS E A ESTAÇÃO CHUVOSA FOI TODA MUITO FRACA. NÃO ESTAMOS NUMA SITUAÇÃO DE ESCASSEZ, O QUE A GENTE TÁ FAZENDO É ANTECIPANDO, CONSIDERAVELMENTE, PARA UM PROBLEMA MAIS GRAVE QUE PODE ACONTECER DE SECA, ENTRE SETEMBRO E OUTUBRO”, INFORMOU SUASSUNA.
Ainda conforme o especialista, estudos apontam que o Pantanal está entrando em um ciclo longo de seca, tal qual o que aconteceu entre 1962 até 1973.
“Desde 2020 a gente está tendo seca frequente, quando teve uma bastante severa combinada com os incêndios florestais. Em 2021, do ponto de vista hidrológico, foi pior ainda, mas não teve a questão do incêndio florestal. No ano seguinte, 2022, ainda foi severo e, em 2023, foi um ano um pouco melhor, porque o rio acabou enchendo e em Ladário chegou na cota de 4 metros, mas como o período seco se prolongou bastante e acabou tento problemas agora em 2024”, explicou.
De acordo com Suassuna, na região central do Brasil, principalmente no Pantanal, os impactos dos fenômenos de La Nina e El Nino não são tão claros. O que dificulta a previsão a longo prazo do que irá acontecer com os níveis dos rios, baseado na quantidade de chuva.
“O QUE A GENTE FAZ NA VERDADE É ACOMPANHAR AS PREVISÕES DE MAIS CURTO PRAZO, ACOMPANHANDO UMA SÉRIE DE OUTROS MODELOS DINÂMICOS QUE FAZEM A PREVISÃO DA ATMOSFERA, MAS SEM OLHAR UMA CONEXÃO DIRETA COM ESSES FENÔMENOS”, INFORMOU AO G1.
O especialista explica que a atual preocupação é que não existe um prognóstico favorável de chuvas que compense o baixo nível. “A gente tá entrando num período seco, numa condição desfavorável com a bacia, com níveis baixos de água acumulada, então devemos passar por um período prolongado de seca com o ‘estoque’ pequeno de água”.
Ainda de acordo com o boletim, a média histórica do período para Ladário era de 3,85 metros e, nesta quinta-feira (16) o nível foi registrado em 1,44 metros, cerca de 2.40 metros abaixo da média e mais de 2.60 metros abaixo do que seria uma enchente do rio. Clique aqui e confira o boletim divulgado.
Porto Murtinho também é um município que preocupa os pesquisadores da SGB, pois em maio de 2024 registrou o nível mais baixo da história do Serviço Geológico.
Chuvas abaixo da média
Segundo instituições como o Instituto Nacional de Meteorologia (Inmet), o Centro de Previsão de Tempo e Estudos Climáticos (CPtec), o Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe), e a Fundação Cearense de Meteorologia e Recursos Hídricos (Funceme), a previsão de maio até julho de 2024 é de chuvas abaixo da média na região.
“ESSAS CHUVAS ABAIXO DA MÉDIA TÊM UM IMPACTO NOS RIOS, NA HIDROLOGIA. ENTÃO, A AGÊNCIA NACIONAL DE ÁGUAS E SANEAMENTO BÁSICO (ANA) MONITORA DIVERSAS ESTAÇÕES HIDROGRÁFICAS, EM ESPECIAL, NÓS CHAMAMOS A ATENÇÃO PARA TRÊS ESTAÇÕES: BARRA DOS BUGRES, CÁRCERE, LADÁRIO E PORTO MURTINHO”, EXPLICOU O SUPERINTENDENTE DE REGULAÇÃO DE USOS DE RECURSOS HÍDRICOS, PATRICK TOMAS.
Sobre a bacia
A Bacia do Paraguai abrange 48% do estado do Mato Grosso e 52% do Mato Grosso do sul. Ao todo, a rede hidrográfica do Paraguai ocupa cerca de 4,3% do território brasileiro. A hidrovia possui 3.442 km de extensão. Por ela é transportada minério de ferro, soja e outros itens de exportação. Além das atividades de pesca e turismo. Já com relação a geração elétrica, há cerca de 50% de aproveitamento, totalizando 1.111MW (megawatts).
Por Débora Ricalde, g1 MS