Por – Professor Admar de Araújo
NO DIA DE TODOS OS SANTOS, EM 1949, O PROFESSOR ADELOR, MEU TIO E ESPOSO DE MINHA TIA ROZINA, FOI ASSASSINADO A SANGUE FRIO POR SEBASTIÃO BRANCO, DURANTE UM ALMOÇO NA CASA DE JOÃO JUSTINO, NOS ALTOS DO SUCURI.
DA FAZENDA, MEUS PAIS OUVIRAM OS DISPAROS. A NOTÍCIA CHEGOU A CAVALO, VEIO RÁPIDA. MEU PAI CONVIDOU SEU COMPADRE E AMIGO MODESTO ALVES E FORAM BUSCAR MEU TIO PARA FAZER O VELÓRIO EM NOSSA CASA.
CHEGARAM COM O CORPO MONTADO E AMARRADO NO DORSO DE UMA MULA, CENA FORTE E SINISTRA. ATÉ A CACHORRADA DA FAZENDA ESTRANHOU, AMEDRONTADA LATIA E UIVAVA UMA MISTURA DE CHORO E PÂNICO. NÃO QUERIA ACEITAR O CORPO ENSANGUENTADO APEAR DA MONTARIA. MAMÃE ESCONDEU A GURIZADA DENTRO DO QUARTO, MAS A CURIOSIDADE FALOU MAIS ALTO, ACABOU VENDO TUDO.
VELARAM MEU TIO NA SALA, SOBRE UMA ENORME MESA DE BÁLSAMO, FEITA PELO CARPINTEIRO GUILHERME PEQUI. A VIZINHANÇA PASSOU A NOITE REZANDO E CANTANDO TRISTES EXCELÊNCIAS.
NO OUTRO DIA, APÓS O SEPULTUMENTO, PERMANECERAM EM NOSSA CASA, APENAS A FAMÍLIA E O ALÍCIO DO ZÉ MORENO: UM JOVEM MULATO COM DIFICULDADE DE PRONÚNCIA E ÓRFÃO DE MÃE. ERA ACOSTUMADO PASSAR DIAS EM NOSSA FAZENDA.
CERTA NOITE, ALÍCIO ACORDOU GRITANDO DESESPERADO: MOZÉ, MOZÉ, U HOMI DA ROZIN TÁ QUI. VEM QUI MOZÉ. MEU PAI PEGOU A LANTERNA E FOI ACUDIR O ALÍCIO. OHAVA POR TODOS OS CANTOS E NÃO VIA NADA: — CADÊ, ALÍCIO? NÃO ESTOU VENDO. ALÍCIO INSISTIA: — OIA ELI AÍ, MOZÉ, TÁ SENTADU NU BANCU, TÁ CHEI DI SANGUI. MEU PAI PERGUNTOU: — COMPADRE ADELOR, RESPONDA PRA MIM, O QUE VOCÊ ESTÁ PRECISANDO? FALE COMIGO, COMPADRE. NENHUMA RESPOSTA. NISTO O ALÍCIO APAVORADO, ABRAÇOU MEU PAI E DISSE: — MOZÉ, ELI TÁ LEVANTANU, ENTÔ PA DIBAXU DA MESA. MI ACODI MOZÉ. VOLUNTARIAMENTE A PORTA SE ABRIU E ALÍCIO GRITAVA: ELI TÁ SAINU PU RUMU DA SIPURTURA. MEU PAI FOI ATÉ A SEPULTURA, NÃO VIU NINGUÉM, MAS ACREDITOU NA EVIDÊNCIA DO ALÍCIO.
DURANTE MUITO TEMPO, ALÍCIO SÓ DORMIA NA SALA QUANDO TINHA VISITA, CASO CONTRÁRIO, NO QUARTO COM MEUS IRMÃOS, NUNA CAMA IMPROVISADA NO CHÃO.
